quarta-feira, 20 de maio de 2009

ESTAMOS ATENTOS




Como se não bastasse desconstruir o amadurecimento político da necessidade de referências negras nos espaços deliberativos públicos deste país, utilizando um negro como protagonista da novela das nove, um dos horários nobres e assistidos, encenando um político corrupto, desorganizado familiarmente e infeliz, tenho que assistir hoje 20/05/2008 na novela das seis "Paraíso"um homem branco lendo um belo texto sobre as barbaridades da escravidão na rádio da cidade, e os próprios negros, rejeitando tal ação, justo na semana em que nossos políticos estão para votar no Estatuto da Igualdade Racial (PL 6264), projeto que está na câmara desde de 2005, que é principal respostas para nós negros das reparações que nos foram cerceadas desde que nos escravizaram na África.
No final da cena, o “ricaço” fazendeiro, descendente dos grandes escravocratas brasileiros, que sempre aparece ajudando a igreja católica, perdendo para o padre nos jogos de sinuca, proclama um grande discurso que escravo são todos brasileiros pobres que pagam os impostos, mas não tem seus direitos assegurados, tirando de foco desrespeitosamente nossa luta e bandeira para o debate social e elitista.
Deixo aqui minha indignação e meu protesto de repúdio contra todo veículo de comunicação em massa que veicula mentira e desordem intelectual desse país. Estou cansado de ser ludibriado e de ver meus irmãos e irmãs aprenderem mentiras históricas e reproduzirem os ideais branco-elitista e racistas.
Precisamos de cotas sim, e tem que ser para negros, pois somos signatários da lei da escravidão aprovada pelo Papa Nicolau e conduzida pelo Imperador de Portugal Afonso V em 1452, que fez do Brasil o país que mais violentou a África com a escravidão, sendo o último país do mundo a abolir o sistema escravocrata.
Precisamos de cotas raciais nas Universidades Públicas sim, pois a Primeira Constituição (1824), que ainda deixa marcas em nossa história, pois desde já proibia o acesso de negros à educação brasileira.
Precisamos de cotas raciais sim, pois o Brasil assinou tratados internacionais como o de luta contra toda e qualquer tipo de discriminação, e no Brasil é só observar quem manda e quem obedece que logo percebemos como a discriminação.
Precisamos de cotas raciais sim, pois ainda hoje, em pleno sec. XXI o negro no Brasil vive em condições sub-humanas, é a população que está em condição de ser condenada ao fracasso profissional, ao serviço braçal, ao acolhimento e acatamento de ordens, a preencher as vagas nas cadeias, a matar e morrer nas favelas e morros brasileiros.
Precisamos de cotas raciais sim, pois fomos negados da verdade sobre nosso passado, sobre nossos costumes, sobre nossa cultura. Tentam de todas as formas nos convencer que somos inferiores, que não somos belos, tentando de forma perversa e desumana exterminar nossa auto-estima.
Como se não bastasse, negociam a imagem da mulher negra brasileira, ao colocarem na novela das sete uma negra pobre que está sendo convencida pelo namorado branco rico a se doar para ele.
Para finalizar, como se já não fosse o suficiente, promovem lavagem celebral em nosso povo, população mais numerosa deste país (49% IBGE, 2007), quando estamos rompendo a dificuldade de auto aceitação, nos colocam como um louco na novela das nove, o problema que o negro é afroafirmado, isso é demais para minha inteligência...
Fui abordado hoje no centro da cidade por um médico que zombava de mim me chamando de o doido da novela por causa de meu cabelo black.
Não suporto mais isso.
Finalizo este texto análise, pois sei que nos retiraram também o bom hábito de ler e eu preciso que esta reflexão chegue ao íntimo de teu âmago e te teus amigos, provocando o desejo de ser uma(um) aliada(o) contra estas barbaridades que continuam sendo reproduzidas, mesmo após 121 anos do fim da escravidão no Brasil.

Um comentário:

  1. Concordo com vc, a mídia não contribui em nada no debate sobre a questão racial no Brasil. Inclusive na novela citada (Paraíso), não me lembro bem a data mas há cerca de dois meses, ocorreu em um episódio uma cena que muito me indignou. A "santa" foi almoçar na pensão da cidade, e na cozinha, a dona da pensão comenta com sua empregada, negra e ignorante: "a santa tem os olhos azuis como os de Nossa Senhora", ao passo que a empregada responde "mas quem disse q os olhos de Nossa Senhora eram azuis?" e, o que poderia ser um interessante debate sobre padrões de beleza impostos, dentre outros eixos, acabou sem nexo. A cena simplesmente se encerrou assim.

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