sexta-feira, 31 de julho de 2009

FELICIDADE REALISTA


Salve todas e todos...
Abaixo uma reflexão sobre a felicidade realista e vida contemporânea... Espero que gostem!!!



FELICIDADE REALISTA (Mário Quintana)
"A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio. Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade. Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar oestrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta estáalta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade."

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Atenção Juventude


CMA HIPHOP INFORMA

ÍNDICE:
- Mesa Redonda: Terra Indígena, Território Africano, Povos Brasileiros
- 17 Anos do Instituto Cultural Stive Biko
- IMPROVILAÇÃO - Encontro de improvisação de dança contemporânea
- Mc Marechal (RJ) toca em Salvador
- 2º Congresso Baiano de Pesquisadores Negros - Inscrições abertas para ouvinte
- V Encontro Por Uma Questão de Gênero e Raça
- Projeto Mutirão Mete Mão - Retorna em sua 15º Edição
- Curso Géo-Política Medicina Natural Ancestral
-Mapeamento de Articulações com Atuação no Tema da Letalidade de Adolescentes e Jovens
- União Nas Quebradas
- Baile Black em Cachoeira


Mesa Redonda: Terra Indígena, Território Africano, Povos Brasileiros



17 ANOS DO INSTITUTO CULTURAL STIVE BIKO
LANÇAMENTO: II Manual de Ante-Racismo e Direitos Humanos para Jovens: “Um Manual para Preserva a Vida da Juventude Negra.”


IMPROVILAÇÃO - Encontro de improvisação de dança contemporânea

1° de agosto sábado20hEntrada franca


: "Jam session" com artistas de vários campos, como música, teatro e artes visuais, tendo a dança como linguagem condutora. O espetáculo será coordenado pelo coreografo e dançarino canadense Farley Johansson, do grupo Science Friction.

http://www.teatrovilavelha.com.br/programacao/programacao.htm#impro

Mc Marechal (RJ) toca em Salvador

2º Congresso Baiano de Pesquisadores Negros - Inscrições abertas para ouvinte

Estão abertas as inscrições para OUVINTE do 2º Congresso Baiano de Pesquisadores Negros que acontece na Universidade Estadual de Feira de Santana (UFES) no período de 24 a 26 de setembro de 2009. Este encontro de caráter interdisciplinar, que é uma promoção da Associação Baiana de Pesquisadores Negros (APNB) em parceria com universidades estaduais (UEFS, UNEB, UESB) e federais (UFBa, UFRB) do estado, tem como tema “Outros Caminhos das Culturas Afro-Brasileiras: Confluências, Diálogos e Divergências". O objetivo é reunir pesquisas e estudos sobre as culturas negras na Bahia, buscando mapear e entender as trajetórias históricoculturais dos negros nas várias regiões do estado. Uma das principais metas da APNB é, justamente, incentivar a emergência de novos temas e perspectivas de abordagens sobre questões atinentes às populações negras no Brasil em geral e na Bahia em particular.
Para inscrição e outras informações, os interessados devem acessar o portal www.apnb.org.br

Fonte: Comissão Organizadora do II CBPN.

V Encontro Por Uma Questão de Gênero e Raça


Projeto Mutirão Mete Mão - Retorna em sua 15º Edição

A galera do Ministereopublico irá proporcionar mais um dia de lazer e entretenimento para jovens de periferia, em sua 15ª edição o Mutirão Mete Mão vai até a comunidade de Nova Brasilia - Estrada Velha do aeroporto, levando sua aparelhagem de som perambulaste, o famoso Sound System. O evento começa às 10h, e vai até às 18h, em frente ao Colegio Veralux, reunirá b.boy`s, grafiteiros, Mc´s, Dj`s e malabaristas que farão performances ao vivo.

Mutirão Mete Mão – Evento sócio-cultural idealizado e realizado pela equipe do ministereopublico – Sistema de Som em parceria com 0.7.1. Crew, que leva música e grafitti para os bairros da cidade de Salvador e para o interior do Estado da Bahia. Realizado 14 vezes entre 2007 e 2008 – no Bairro da Paz, Saramandaia, Massaranduba, Itinga, Garcia, Boca do Rio, Federação, Bate Facho, Vasco da Gama, Pituaçu, Castelo Branco e São Lázaro///// Feira de Santana e Cachoeira).

Este projeto tem como principal característica a diversidade, reunindo além dos moradores do local, grafiteiros, estudantes, músicos, líderes comunitários, professores, formadores de opinião e artistas em geral, de várias faixas etárias e segmentos sociais, unidos no intuito de agregar valores e disseminar todas as expressões artísticas presentes naquela comunidade.

QUANDO: 02/08/2009 10 as 18 horas
ONDE: Nova Brasilia - Estrada Velha do aeroporto – em frente ao Colegio Veralux
QUANTO: GRÁTIS
APOIO: Educadora FM 107.5, CMA HIPHOP

Contato: Murilo F
Produtor e Gestor Ministereopublico
71 8184 4691
ministereo.publico@hotmail.com
www.ministereopublico.com.br

Curso Géo-Política Medicina Natural Ancestral



Mapeamento de Articulações com Atuação no Tema da Letalidade de Adolescentes e Jovens

A violência letal contra adolescentes e jovens é um dos maiores problemas sociais de nosso país. Com o objetivo de fomentar um debate nacional e buscar alternativas para o enfrentamento dessa questão, o Observatório de Favelas em parceria com a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, o UNICEF e o Laboratório de Análise de Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro estão desenvolvendo um programa voltado para a redução dos homicídios de adolescentes e jovens no Brasil. O Programa de Redução da Violência Letal estrutura-se em três eixos de atuação: I - a articulação política, que prevê ações de advocacy . nacional e de mobilização de diferentes atores sociais; II - a produção de indicadores sobre a mortalidade de adolescentes e jovens, tendo em vista a construção de mecanismos de monitoramento que possam subsidiar políticas públicas; III - o levantamento, análise e difusão de metodologias que contribuam para a diminuição da letalidade de adolescentes e jovens. No âmbito do terceiro eixo do programa realizaremos um mapeamento de políticas locais, municipais e estaduais voltadas para a prevenção da violência e a redução de homicídios. O objetivo desse mapeamento é identificar iniciativas que possam orientar políticas públicas abrangentes nesse setor. Este trabalho será desenvolvido ao longo de 12 meses em 11 regiões metropolitanas do Brasil e na Bahia nas cidades de Salvador, Lauro de Freitas e Camaçari.

Mapeamento de articulações (conselhos, fóruns, redes e organizações dos movimentos sociais)

As articulações como fóruns, redes, movimentos sociais e conselhos, entre outros, constituem espaços de organização coletiva em que a sociedade civil debate suas pautas e define prioridades e estratégias de incidência nas políticas públicas, seja no campo da formulação, definição de orçamento, monitoramento ou avaliação de ações. Portanto, tais articulações produzem desdobramentos importantes na construção de mecanismos de participação popular que fortalecem o controle social das políticas públicas. Por essa razão, é fundamental mapear as articulações que estejam debatendo o tema da letalidade de adolescentes e jovens, bem como aquelas que sejam reconhecidas como atores estratégicos para a construção de uma agenda local de enfrentamento do problema. Nesta perspectiva, o processo de mapeamento proposto procurará identificar as articulações de adolescentes e jovens que serão convidadas para a oficina local do Programa e os conselhos, redes, fóruns e movimentos que serão entrevistados na pesquisa. Com esse intuito convidamos pessoas e organizações para junto à equipe local do programa apontar iniciativas do movimento social e do poder público que contribuam para redução letalidade de adolescentes e jovens nas cidades de Salvador, Lauro de Freitas e Camaçari.

Contato:

Jamile Carvalho
Observatório de Favelas
Programa de Redução da Violência Letal
E-mail: jamileprvl@gmail.com
Tel: (71) 88556778
www.observatoriodefavelas.org.br

União Nas Quebradas


Baile Black em Cachoeira




ORKUT: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=41843878
MSN: evolucaohiphop@hotmail.com
OUÇA AO VIVO: www.educadora.ba.gov.br

ATENÇÃO !!!
Este grupo é fechado, para responder o e-mail ou entrar em contato com a CMA HIPHOP, veja abaixo:

“Diversidade cultural patrimônio comum da humanidade, educação pela comunicação para democratizar as oportunidades, a estrada é muito longa cheia de sinais, mas nunca apague o farol dos seus ideais ”
Dj Branco.

“Por todos os meios necessários” Malcom X.

Comunicação, Militância e Atitude - CMA HipHop
E-mail: cmahiphop007@gmail.com / cmahiphop@yahoo.com.br
Tel: 55-(71) 91510631 / DJ BRANCO
Salvador – Bahia – Brasil

Conselho Econômico e Social da ONU Defende Atendimento Integral a Usuários de Drogas Como Estratégia de Resposta à Aids

Em encontro na Suíça, países-membros apresentam resolução para a luta contra a epidemia


Brasília e Genebra, 28 de julho de 2009 – Em sessão realizada na última sexta-feira (24), o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC) aprovou resolução relativa ao Programa Conjunto da ONU sobre HIV/Aids (UNAIDS) e que orienta as agências das Nações Unidas a intensificar seu apoio aos governos no trabalho de prevenção e atenção à aids.

Entre as decisões, destaca-se o reconhecimento do estigma, da discriminação, das desigualdades sócio-econômicas e de gênero, além do desrespeito aos direitos humanos, como as principais causas do avanço dessa epidemia. Além disso, o ECOSOC reafirmou a “necessidade de expandir e de reforçar significativamente o trabalho do UNAIDS com os governos nacionais e de trabalhar com todos os grupos da sociedade civil para preencher as lacunas no acesso aos serviços para os usuários de drogas injetáveis, em qualquer situação, inclusive nas prisões; de desenvolver modelos abrangentes e adequados de serviços direcionados aos usuários de drogas injetáveis; de trabalhar estratégias para minimizar o estigma e a discriminação em relação a essa população; e de apoiar o aumento da capacidade e dos recursos para a prestação de um conjunto de serviços abrangentes e integrais para os usuários de drogas injetáveis, incluindo programas de redução dos danos relacionados ao HIV, tal como proposto no ‘Guia Técnico para os países de definição de metas para o acesso universal à prevenção do HIV, tratamento e cuidados para usuários de drogas injetáveis’ (OMS / UNODC / UNAIDS), de acordo com as circunstâncias específicas de cada país”.

Os países-membros da ONU destacaram a importância da remoção de barreiras sócio-econômicas e legais e o máximo uso das flexibilidades previstas no acordo TRIPS (relativo à propriedade intelectual) para a garantia do acesso a medicamentos antiaids de qualidade e a preços acessíveis aos países em desenvolvimento – ações as quais o UNAIDS e as demais Agências das Nações Unidas deverão priorizar.

Destacou-se na reunião o posicionamento de seis países – Argélia, Bielorrússia, Brasil, Estados Unidos, Rússia e Suécia – que foram unânimes ao defender o trabalho do UNAIDS e o atendimento integral aos usuários de drogas.

STF X DEM

Salve Todas e Todos...
Para que possamos saber debater sobre a importância e constitucionalidade das Ações Afirmativas no Brasil juntos aos racistas ex-colonizadores, possamos refletir sobre o parecer do STF na pessoa do Procurador Geral da republica Roberto Gurgel.


PGR: princípio da igualdade é compatível com promoção de ações afirmativas29/7/2009 9h10.


Em parecer enviado ao STF, procurador-geral da República é contra concessão de medida cautelar pedida pelo DEM em ação contra o sistema de cotas raciais na UnBO procurador-geral da República, Roberto Gurgel, enviou parecer ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a concessão de medida cautelar pedida pelo Partido Democratas (DEM) em arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF 186) que questionou a política de cotas adotada pela Universidade de Brasília (UnB).


De acordo com ele, ao contrário do que alega a legenda, o princípio da igualdade, tal como concebido no sistema constitucional brasileiro, não só é compatível, como, em determinadas situações, até reclama a promoção de políticas de ação afirmativa, para superação de desigualdades profundamente entrincheiradas nas nossas práticas sociais e instituições.No parecer, Gurgel explica que a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, devidamente incorporada ao ordenamento interno brasileiro, é expressa ao autorizar as políticas de ação afirmativa baseadas em critério racial para favorecimento de indivíduos e grupos em situação de desvantagem. Destaca também que o art. 3º, inciso IV, da Constituição Federal, ao vedar os preconceitos de raça, sexo, cor, idade, e outras formas de discriminação, "não pode ser visto como um empecilho para a instituição de medidas que favoreçam os grupos e segmentos que são costumeiramente discriminados, ainda que tais medidas adotem como fator de desigualação qualquer destes critérios".


Na ADPF, o DEM propõe como tese central que políticas de ações afirmativas "racialistas" (sic), como as implementadas pela UnB, seriam inconstitucionais, resultando de um descabido mimetismo do modelo adotado nos Estados Unidos para enfrentamento da injustiça social. Segundo a ação, o principal argumento invocado em favor das políticas de ação afirmativa é a teoria da justiça compensatória, que visa a retificar, no presente, as injustiças cometidas contra os negros no passado. Isso, de acordo com a argumentação, seria inadmissível, pois não se pode atribuir às pessoas de hoje a obrigação de repararem os erros de seus ancestrais.Para o procurador-geral da República, há dois equívocos na afirmação do DEM de que o principal argumento em prol da ação afirmativa para afrodescendentes no Brasil seria a justiça compensatória.


De acordo com ele, a justiça compensatória não é o único, nem o principal, argumento em favor da ação afirmativa para negros no acesso ao ensino superior. Além dela, há a justiça distributiva, a promoção do pluralismo nas instituições de ensino e a superação de estereótipos negativos sobre o afrodescendente, com o consequente fortalecimento da sua auto-estima e combate ao preconceito:Justiça distributiva – Para Gurgel, argumento essencial nessa questão é o da justiça distributiva. Ele sustenta que o quadro de dramática exclusão do negro, no presente, justifica medidas que o favoreçam e que ensejem uma distribuição mais igualitária de bens escassos, como são as vagas em uma universidade pública, visando à formação de uma sociedade mais justa. "Esse argumento não tem em vista o passado, como o da justiça compensatória, mas sim a construção de um futuro mais equitativo", afirma.


Promoção do pluralismo – O procurador-geral defende que o Brasil tem como uma de suas maiores riquezas a diversidade étnica e cultural e, para que todos se beneficiem de tal riqueza, é necessário romper com o modelo informal de segregação, que exclui o negro da universidade, confinando-o a posições subalternas na sociedade. "Especialmente no ensino, o convívio com a diferença torna a formação e o aprendizado do estudante uma experiência rica para todos", diz.


Superação de estereótipos – Ainda segundo Gurgel, as políticas de ação afirmativa baseadas em critérios raciais são positivas na medida em que quebram estereótipos negativos que definem a pessoa negra como predestinada a exercer papéis subalternos na sociedade.Sobre a concessão de liminar, ele explica que, caso concedida, atingiria um amplo universo de estudantes negros, em sua maioria carentes, privando-os do acesso à universidade. E também geraria graves efeitos sobre as políticas de ação afirmativa de corte racial promovida por dezenas de instituições no país. "Um precedente do STF contrário às quotas para afrodescedentes teria reflexos dramáticos sobre todas as universidades que promovem medidas de discriminação positiva em favor de negros ou outras minorias, gerando grave insegurança e intranquilidade, e levantando dúvidas sobre a legitimidade da situação dos milhares de estudantes em todo o Brasil que já são beneficiários de tais políticas públicas", conclui.


Secretaria de Comunicação SocialProcuradoria Geral da República(61) 3105-6404/6408

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Extermínio da Juventude Negra brasileira



Saudações a todas e todos.
Abaixo a Carta extraída da Plenária do CONNEB - Congresso Nacional de Negras e Negros do Brasil ocorrido nos dias 23 a 26 de julho de 2007 em Porto Alegre - RS. A todas e todos que se esforçaram pela juventude negra meus sinceros agradecimentos...

Nós, negras e negros, reunidos/as na Assembléia Nacional do Congresso de Negras e Negros do Brasil – CONNEB, nos dias 23 a 26 de julho de 2009, em Porto Alegre/RS, reafirmamos que a luta contra o extermínio da juventude negra é essencial no processo de enfrentamento ao racismo.

Pesquisa divulgada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos, UNICEF e Observatórios de Favelas, na última terça-feira (21/07), afirma que mais de 33.5 mil jovens deverão ser executados de 2006 a 2012. Os estudos ainda apontam que, os jovens negros apresentam risco quase três vezes maior de serem executados em comparação aos brancos.

Essa situação, infelizmente, há tempos vem sendo denunciada pelo movimento social negro em nosso país. O extermínio vivido pela nossa juventude é fruto de um modelo de Estado racista que não dá conta de resolver os problemas estruturais secularmente sofridos pelo povo negro, sobretudo pela juventude que amarga os piores indicadores sociais e segue alijada em nossa sociedade.

Não podemos mais admitir que o sangue de jovens negros/as continue jorrando no chão das periferias brasileiras. Não podemos mais aceitar que a lógica do modelo econômico e do racismo determine a morte de nossos irmãos e irmãs em todos os cantos do país. É preciso dar uma basta!

Por isso, reafirmamos nossa luta contra o extermínio da juventude negra e convocamos os setores comprometidos com a superação do racismo a se juntarem conosco na busca de um presente e um futuro melhor para o nosso povo.

Porto Alegre/RS, 26 de julho de 2009.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Refletindo sobre nossa Educação



Caro Leitores...
Precisamos parar e repensarmos nossa a Educaão Brasileira, que forma seus filhos, meus primos, nossas Irmas e Irmaos...
Infelizmente nossa situação esta grave....

Pesquisa aponta necessidade de uma maior reflexão sobre a inclusão escolar nas escolas públicas.

19/06/2009

Pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), a pedido do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aponta, pela primeira vez no Brasil, o preconceito e discriminação existentes nas escolas públicas brasileiras, indo de encontro à política radical do Ministério da Educação (MEC) em relação à educação especial, na perspectiva da inclusão escolar. Mostra que essa questão deve ser mais refletiva e debatida com todos os atores sociais envolvidos, sob pena de, mais uma vez, as minorias, especificamente a pessoa com deficiência intelectual e múltipla, de forma solitária, enfrentarem atitudes discriminatórias.


A pesquisa, realizada em 501 escolas públicas brasileiras e baseada em mais 18,5 mil entrevistas, revelou que 99,3% dos alunos, pais, mães, diretores, professores e funcionários têm algum preconceito étnico-racial, socioeconômico ou contra pessoas com deficiência.


Um percentual de 96,5% dos entrevistados têm preconceito com relação à pessoas com deficiência, 94,2% têm preconceito étnico-racial, 93,5% de gênero, 91% de geração, 87,5% socioeconômico, 87,3% com relação à orientação sexual e 75,95% têm preconceito territorial. Tais resultados indicam que, além de nutrir o preconceito, os entrevistados evitam o contato com as vítimas, ou seja, estudantes com algum tipo de deficiência, de raças discriminadas, pobres ou homossexuais são excluídos em brincadeiras, no recreio ou até em trabalhos na sala de aula, e por isso, a socialização entre todos é dificultada. O estudo indica ainda que 99,9% dos entrevistados desejam manter distância de algum grupo social. Os deficientes mentais são os que sofrem maior preconceito com 98,9% das pessoas com algum nível de distância social, seguido pelos homossexuais com 98,9%, ciganos (97,3%), deficientes físicos (96,2%), índios (95,3%), pobres (94,9%), moradores da periferia ou de favelas (94,6%), moradores da área rural (91,1%) e negros (90,9%).

Referências: Estado de Minas, p.24 - Ingrid Furtado; O Tempo, p.15; Hoje em Dia, p.16, 18/06/2009.

Combatendo manifestações Racistas

Caros Amig@s...



Abaixo uma resposta inteligente de alguém que sabe o que fala e como fala para escapar das armadilhas racistas deste país...
Juventude nos conselhos do Professor Kabengele Munanga, estude, estude e estude somente isso nos liberará de fatos destes atos perversos e maldosos...



Manifestação do professor Kabengele Munanga acerca da matéria “Monstros tristonhos” publicada no jornal O Estado de S. Paulo de 14 maio de 2009, de autoria de Demétrio Magnoli

Em matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo de 14 maio de 2009 (http://arquivoetc.blogspot.com/2009/05/demetrio-magnoli-monstros-tristonhos.html), intitulada “Monstros tristonhos”, o geógrafo Demétrio Magnoli critica e acusa agressivamente as Universidades Federais de Santa Maria (UFSM) e de São Carlos (UFSCAR) e também a mim, Kabengele Munanga, Professor do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
As duas universidades são criticadas e acusadas por terem, segundo o geógrafo, criado ”tribunais raciais” que rejeitam as matrículas de jovens mestiços que optam pelas cotas raciais. No caso da Universidade Federal de Santa Maria, trata-se apenas de Tatiana de Oliveira, cuja matrícula foi cancelada menos de um mês após o início do curso de Pedagogia. No caso da Universidade Federal de São Carlos, trata-se do estudante Juan Felipe Gomes. O acusador acrescenta que um quarto dos candidatos aprovados na UFSCAR pelo sistema de cotas raciais neste ano de 2009 teve sua matrícula cancelada pelo “tribunal racial” dessa universidade.
A questão que se põe é saber se além desses estudantes, cujas matrículas foram canceladas, outros alunos mestiços ingressaram em cerca de 70 universidades públicas que aderiram à política de cotas. Se a resposta for afirmativa, os que tiveram sua matrícula cancelada constituem casos raros ou excepcionais que mereceriam a atenção não apenas de Demétrio Magnoli, mas também de todas as pessoas que defendem a justiça e a igualdade de tratamento.
Mas por que esses casos raros, que constituem uma exceção e não a regra, foram “injustiçados” pelas comissões de controle formadas nessas universidades para evitar fraudes, comissões que o sociólogo Demétrio rotula de “tribunais raciais”? Por que só eles? Por que não ocorreu o mesmo com os outros mestiços aprovados? Houve realmente injustiça racial ou erro humano na avaliação da identidade física dessas pessoas que foram simplesmente consideradas brancas e não mestiças apesar de sua autodeclaração? Os erros humanos, quando são detectados, devem ser corrigidos pelos próprios humanos, como o foi no caso dos estudantes gêmeos da UnB. As injustiças, flagrantes ou não, devem ser apuradas e julgadas pela própria justiça que, num estado democrático de direito como o Brasil, deverá prevalecer. Acho que os estudantes Tatiana de Oliveira e Juan Felipe Gomes, e tantos outros que o sociólogo menciona sem entretanto nomeá-los, devem procurar um advogado para defender seus direitos se estes tiverem sido efetivamente violados pelos chamados “tribunais raciais”. Entendo que o geógrafo Demétrio tenha pena deles, considerando a sua sensibilidade humana.
Se realmente houve erro humano na verificação da identidade desses estudantes, a explicação não está na citação intencionalmente deturpada de algumas linhas extraídas de um texto introdutório de três páginas ao livro de Eneida de Almeida dos Reis, intitulado MULATO: negro-não-negro e/ou branco-não-branco, publicado pela Editora Altara, na Coleção Identidades, São Paulo, em 2002.
Veja como é interessante a estratégia de ataque do geógrafo Demétrio Magnoli. Ele escondeu de seus leitores o título do livro de Eneida de Almeida dos Reis, assim como a casa editora e a data de sua publicação para evitar que possíveis interessados pudessem ter acesso à obra para averiguar direta e pessoalmente o fundamento das acusações. De fato, ele não disse absolutamente nada sobre o conteúdo desse livro, e passa a impressão de ter lido apenas vinte linhas do total de três páginas da introdução, a partir das quais constrói seu ensaio e sua acusação. Com sua inteligência genuína, acho que ele poderia ter feito uma pequena síntese desse livro para seus leitores; se ele o tivesse mesmo lido, entenderia que nada inventei sobre a ambivalência genética do mestiço que não estivesse presente no próprio título da obra “Mulato: negro-não-negro e/ou branco-não-branco”. Desde quando a palavra ambivalência é sinônimo de “monstro tristonho”? Estamos assistindo à invenção, pelo geógrafo, de novos verbetes dos dicionários da língua portuguesa?
O livro de Eneida de Almeida dos Reis resultou de uma pesquisa para dissertação de mestrado defendida na PUC de São Paulo sob a orientação de Antonio da Costa Ciampa, Professor do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia da PUC São Paulo. Ele foi convidado a fazer a apresentação do livro, na qualidade de professor orientador, e eu para escrever a introdução, na qualidade de ex-professor na disciplina “Teorias sobre o racismo e discursos antirracistas”, ministrada no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP. O livro se debruça sobre as peripécias e dificuldades vividas pelos indivíduos mestiços de brancos e negros, pejorativamente chamados mulatos, no processo de construção de sua identidade coletiva e individual, a partir de um estudo de caso clínico. É uma pena que nosso crítico acusador não tenha tido a coragem de apresentar a seus leitores o verdadeiro conteúdo desse livro, resultado de uma meticulosa pesquisa acadêmica, e não da minha fabulação.
Para entender porque essas pessoas mestiças foram consideradas brancas, apesar de terem declarado sua afrodescendência, é preciso voltar ao clássico “Tanto preto quanto branco: estudos de relações raciais”, de Oracy Nogueira (São Paulo: T.A. Queiroz, 1985). Se o geógrafo Demétrio tivesse lido esse livro, acredito que teria entendido porque as pessoas brancas que possuem algumas gotas de sangue africano são consideradas pura e simplesmente negras nos Estados Unidos – apesar de exibirem uma fenotipia branca – e brancas no Brasil. Ensina Nogueira que a classificação racial brasileira é de marca ou de aparência, contrariamente à classificação anglo-saxônica que é de origem e se baseia na “pureza” do sangue. Do ponto de vista norteamericano, todos os brasileiros seriam, de acordo com as pesquisas do geneticista Sergio Danilo Pena, considerados negros ou ameríndios, pois todos possuem, em porcentagens variadas, marcadores genéticos africanos e ameríndios, além de europeus, sem dúvida. Quando essas pessoas fenotipicamente brancas e geneticamente mestiças se consideram ou são consideradas brancas no decorrer de suas vidas e assumem, repentinamente, a identidade afrodescendente para se beneficiar da política das cotas raciais, as suspeitas de fraude podem surgir. Creio que foi o que aconteceu com os alunos cujas matrículas foram canceladas na UFSM e na UFSCAR. Se não houver essa vigilância mínima, seria melhor não implementar a política de cotas raciais, porque qualquer brasileiro pode se declarar afrodescendente, partindo do pressuposto de que a África é o berço da humanidade.
Lembremo-nos de que no início dos debates sobre as cotas colocava-se a dificuldade de definir quem é negro no Brasil por causa da mestiçagem. Falsa dificuldade, porque a própria existência da discriminação racial antinegro é prova de que não é impossível identificá-lo. Senão, o policial de Guarulhos não teria assassinado o jovem dentista identificado como negro pelo cidadão branco assaltado, e os zeladores de todos os prédios do Brasil não teriam facilidade para orientar os visitantes negros a usar os elevadores de serviço. Por sua vez, as raras mulheres negras moradoras dos bairros de classe média não seriam constantemente convidadas pelas mulheres brancas, quando se encontram nos elevadores, para trabalhar como domésticas em suas casas. Existem casos duvidosos, como o dos alunos em questão, que mereceriam uma atenção desdobrada para não se cometer erros humanos, mas não houve dúvidas sobre a identidade da maioria dos estudantes negros e mestiços que ingressaram na universidade através das cotas.
Bem, o geógrafo Demétrio Magnoli leva ao extremo a acusação a mim dirigida quando me considera um dos “ícones do projeto da racialização oficial do Brasil”. Grave acusação! Infelizmente, ele não deu nomes a outros ícones. Nomeou apenas um deles, cuja obra não leu, ou melhor, demonstra não ter lido. Mas por que só o meu nome mencionado? Porque sou o mais fraco, pelo fato de ser brasileiro naturalizado, ou o mais importante, por ter chegado ao ponto mais alto da carreira acadêmica? Isso parece incomodá-lo bastante! Um negro que chegou lá, ao topo da carreira acadêmica, numa das melhores universidades do país, mas nem por isso esse negro deixou de ser solidário, pois milita intelectualmente para que outros negros, índios e brancos pobres tenham as mesmas oportunidades.
De acordo com as conclusões assinaladas no livro de Eneida de Almeida dos Reis, muitos mestiços têm dificuldades para construir sua identidade por causa da ambivalência (Mulato: negro-não-negro e/ou branco-não-branco), dificuldades que eles teriam superado se tivessem política e ideologicamente assumido uma de suas heranças, ou seja, a sua negritude, que é o ponto nevrálgico de seu sofrimento psicológico. Se o sociólogo acusador tivesse lido este livro e refletido serenamente sobre suas conclusões, ele teria percebido que não alimento nenhum projeto ou plano de ação para suprimir a mestiçagem no Brasil. Isto só pode ser chamado de masturbação ideológica, e não de análise sociológica, nem geográfica! Como seria possível suprimir a mestiçagem, que é um fato fundamental da história da humanidade, desafiando as leis da genética e a vontade dos homens e das mulheres que sempre terão intercursos interraciais? Nem o autor do ensaio sobre as desigualdades das raças humanas, Arthur de Gobineau, chegou a acreditar nessa possibilidade. Se as leis segregacionistas do Sistema Jim Crow no Sul dos Estados Unidos e do Apartheid na África do Sul não conseguiram fazê-lo, os ícones da racialização oficial do Brasil, entre os quais nosso colega me situa, terão esse poder mágico e milagroso que ele lhes atribui?
Entrando na vida privada, gostaria que o sociólogo soubesse que tenho um filho e uma neta mestiços que não são monstros tristonhos como ele pensa, pois são educados para assumir sua negritude e evitar assim os graves problemas psicológicos apontados na obra de Eneida de Almeida Dos Reis, através da indefinida personagem Maria, (ver p.39-100). Como se pode dizer que os mestiços são geneticamente ambivalentes e que política e ideologicamente não podem permanecer nessa ambivalência e ser por isso taxado de charlatão acadêmico? Creio que se trata apenas de uma reflexão que decorre das conclusões do próprio livro e que de per si não constituiria nenhum charlatanismo. Não seria um contra-senso e um grave insulto à USP que esse “charlatão acadêmico” tenha chegado ao topo da carreira acadêmica? E que tenha orientado dezenas de doutores hoje professores nas grandes universidades brasileiras, como a USP, UNICAMP, UNESP, UFMG, UFF, UFRJ, Universidade Federal de Goiás, Universidade Federal de São Luiz do Maranhão, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Candido Mendes, PUC de Campinas, etc. Creio que, salvo o geógrafo Demétrio, os que me conhecem através de textos que escrevi, de minhas aulas e de minhas participações nos debates sociais e intelectuais no país e no exterior, não me atribuiriam esse triste retrato.
Disse ainda o geógrafo Demétrio que “do ponto mais alto da carreira universitária, o antropólogo professa a crença do racismo científico, velha de mais de um século, na existência biológica de raças humanas, vestindo-a curiosamente numa linguagem decalcada da ciência genética”. Sinceramente, não entendo como Demétrio conseguiu tirar tanta água das pedras. Das 20 linhas extraídas, de maneira deturpada, de um texto de três páginas de introdução, ele conseguiu dizer coisas horríveis, como se tivesse lido tudo que escrevi durante minha trajetória intelectual sobre o racismo antinegro. A colonização da África, contrariamente às demais colonizações conhecidas na história da humanidade, foi justificada e legitimada por um corpus teórico-científico baseado nas idéias evolucionistas e racialistas produzidas na modernidade ocidental. Teria algum sentido para mim, que milito contra o racismo, professar o racismo científico para lutar contra o racismo à brasileira? Acho que nosso geógrafo quer me transformar num demente que não sou. As pessoas que leram seu texto no jornal O Estado de S. Paulo podem pensar que eu sou esse negro ex-colonizado que professa as mesmas idéias do racismo científico que postulou a inferioridade e a desumanidade dos africanos, incluída a dele mesmo. Como entender que meus alunos de Pós-graduação, a quem ensino há vinte anos “As teorias sobre o racismo e discursos antirracistas”, uma disciplina freqüentada por alunos da USP, de outras universidades e outros estados, têm a coragem de ocupar um semestre inteiro para escutar profissões de fé em favor do racismo científico?
Se o geógrafo Demétrio quer saber mais sobre mim, ingressei na Faculdade em 1964, aos vinte e dois anos de idade. Tive aulas de Antropologia Física com um dos melhores biólogos e geneticistas franceses, Jean Hiernaux. Uma das primeiras coisas que ele me ensinou era que a raça não existe biologicamente. Através de suas aulas, li François Jacob, Nobel de Fisiologia (1965) e um dos primeiros franceses a decretar que a raça pura não existe biologicamente; e J.Ruffie, Albert Jacquard e tantos outros geneticistas antirracistas dessa época. Portanto, sei muito bem, e bem antes de Demétrio que o racismo não pode ter mais sustentação científica com base na noção das raças superiores e inferiores, que não existem biologicamente. Sei muito bem que o conteúdo da raça enquanto construção é social e político. Ou seja, a realidade da raça é social e política porque tivemos na história da humanidade povos e milhões de seres humanos que foram mortos e dominados com justificativa nas pretensas diferenças biológicas. Temos em nosso cotidiano, pessoas discriminadas em diversos setores da vida nacional porque apresentam cor da pele diferente. Nosso sistema educativo é eurocêntrico e nossos livros didáticos são repletos de preconceitos por causa das diferenças. Não sou um novato que ingressou ontem na universidade brasileira. No Brasil, fui introduzido ao pensamento racial nacional por grandes mestres, como João Baptista Borges Pereira, que foi meu orientador no doutoramento, Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Oracy Nogueira, entre outros. Não sei onde estava Demétrio nessa época e em que ano ele descobriu que a raça não existe. Acho um exagero querer me dar lição de moral sobre coisas que eu conheço muito antes dele. Isto não quer dizer que ele não possa me ensinar temas pertinentes à geografia, como por exemplo, o que se pode ler em seu livro sobre a África do Sul – “Capitalismo e Apartheid”, publicado pela Editora Contexto, São Paulo, 1998, que oferece algumas informações interessantes sobre a história do sistema do apartheid. Esse livro faz parte da bibliografia recomendada na disciplina ministrada na Graduação, não obstante algumas incorreções históricas nele contidas.
Um dos maiores problemas da nossa sociedade é o racismo, que, desde o fim do século passado, é construído com base em essencializações sócio-culturais e históricas, e não mais necessariamente com base na variante biológica ou na raça. Não se luta contra o racismo apenas com retórica e leis repressivas, não somente com políticas macrossociais ou universalistas, mas também, e, sobretudo, com políticas focadas ou específicas em benefício das vítimas do racismo numa sociedade onde este é ainda vivo. É neste sentido que faço parte do bloco dos intelectuais brancos e negros que defendem as políticas de ação afirmativa e de cotas para o acesso ao ensino superior e universitário. Na cabeça e no pensamento de Demétrio Magnoli, todos os que fazem parte desse bloco querem racializar o Brasil, e isso faz parte de um projeto e de um plano de ação. Que loucura!
Defendemos as cotas em busca da igualdade entre todos os brasileiros, brancos, índios e negros, como medidas corretivas às perdas acumuladas durante gerações e como políticas de inclusão numa sociedade onde as práticas racistas cotidianas presentes no sistema educativo e nas instituições aprofundam cada vez mais a fratura social. Cerca de 70 universidades públicas estaduais e federais que aderiram à política de cotas sem esperar a Lei ainda em tramitação no Senado entenderam a importância e a urgência dessa política. Acontece que essas universidades não são dirigidas por negros, mas por compatriotas brancos que entendem que não se trata do problema do negro, mas sim do problema da sociedade, do seu problema como cidadão brasileiro. Podemos dizer que todos esses brancos no comando das universidades querem também racializar o Brasil, suprimir os mestiços e incentivar os conflitos raciais? Afinal, podemos localizar os linchamentos e massacres raciais nos Estados onde se encontram as sedes das universidades que aderiram às cotas? Tudo não passa de fabulações dos que gostariam de manter o status quo e que inventam argumentos que horrorizam a sociedade. Quem está ganhando com as cotas? Apenas os alunos negros ou a sociedade como um todo? Quem ingressou através das cotas? Apenas os alunos negros e indígenas ou entraram também estudantes brancos da escola pública?
Concluindo, penso que existe um debate na sociedade que envolve pensamentos, filosofias e representações do mundo, ideologias e formações diferentes. Esse pluralismo é socialmente saudável, na medida em que pode contribuir para a conscientização de seus membros sobre seus problemas e auxiliar a quem de direito, o legislador e o executivo, na tomada de decisões esclarecidas. Este debate se resume a duas abordagens dualistas. A primeira compreende todos aqueles que se inscrevem na ótica essencialista, segundo a qual a humanidade é uma natureza ou uma essência e como tal possui uma identidade genérica que faz de todo ser humano um animal racional diferente dos demais animais. Eles afirmam que existe uma natureza comum a todos os seres humanos em virtude da qual todos têm os mesmos direitos, independentemente de suas diferenças de idade, sexo, raça, etnias, cultura, religião, etc. Trata-se de uma defesa clara do universalismo ou do humanismo abstrato, concebido como democrático. Considerando a categoria raça como uma ficção, eles advogam o abandono deste conceito e sua substituição pelos conceitos mais cômodos, como o de etnia. De fato, eles se opõem ao reconhecimento público das diferenças entre brancos e não brancos. Aqui temos um antirracismo de igualdade que defende os argumentos opostos ao antirracismo de diferença. As melhores políticas públicas, capazes de resolver as mazelas e as desigualdades da sociedade, deveriam ser somente macro-sociais ou universalistas. Qualquer proposta de ação afirmativa vinda do Estado que introduza as diferenças para lutar contra as desigualdades, é considerada, nessa abordagem, como um reconhecimento oficial das raças e, conseqüentemente, como uma racialização do Brasil, cuja característica dominante é a mestiçagem. Ou, em outras palavras, as políticas de reconhecimento das diferenças poderão incentivar os conflitos raciais que, segundo dizem, nunca existiram. Assim sendo, a política de cotas é uma ameaça à mistura racial, ao ideal da paz consolidada pelo mito de democracia racial, etc. Eu pergunto se alguém pode se tornar racista pelo simples fato de assumir sua branquitude, amarelitude ou negritude? Como se identifica então o geógrafo Demétrio: branco, negro, mestiço ou Demétrio indefinido? Pelo que me consta, ele se identifica como branco, mas não aceita que os negros e seus descendentes mestiços se identifiquem como tais e lutem por seus direitos num país onde são as grandes vítimas do racismo. A menos que ele negue a existência das práticas racistas no cotidiano brasileiro, e as diferenças de cor, sexo, classe e religiões que exigiriam políticas diferenciadas.
A segunda abordagem reúne todos aqueles que se inscrevem na postura nominalista ou construcionista, ou seja, os que se contrapõem ao humanismo abstrato e ao universalismo, rejeitando uma única visão do mundo em que não se integram as diferenças. Eles entendem o racismo como produção do imaginário destinado a funcionar como uma realidade a partir de uma dupla visão do outro diferente, isto é, do seu corpo mistificado e de sua cultura também mistificada. O outro existe primeiramente por seu corpo antes de se tornar uma realidade social. Neste sentido, se a raça não existe biologicamente, histórica e socialmente ela é dada, pois no passado e no presente ela produz e produziu vítimas. Apesar do racismo não ter mais fundamento científico, tal como no século XIX, e não se amparar hoje em nenhuma legitimidade racional, essa realidade social da raça que continua a passar pelos corpos das pessoas não pode ser ignorada.
Grosso modo, eis as duas abordagens essenciais que dividem intelectuais, estudiosos, midiáticos, ativistas e políticos, não apenas no Brasil, mas no mundo todo. Ambas produzem lógicas e argumentos inteligíveis e coerentes, numa visão que eu considero maniqueísta. Poderão as duas abordagens se cruzar em algum ponto em vez de se manter indefinidamente paralelas? Essa posição maniqueísta reflete a própria estrutura opressora do racismo, na medida em que os cidadãos se sentem forçados a escolher a todo momento entre a negação e a afirmação da diferença. A melhor abordagem seria aquela que combina a aceitação da identidade humana genérica com a aceitação da identidade da diferença. Para ser um cidadão do mundo, é preciso ser, antes de mais nada, um cidadão de algum lugar, observou Milton Santos num de seus textos. A cegueira para com a cor é uma estratégia falha para se lidar com a luta antirracista, pois não permite a autodefinição dos oprimidos e institui os valores do grupo dominante e, conseqüentemente, ignora a realidade da discriminação cotidiana. A estratégia que obriga a tornar as diferenças salientes em todas as circunstâncias obriga a negar as semelhanças e impõe expectativas restringentes.
Se a questão fundamental é como combinar a semelhança com a diferença para podermos viver harmoniosamente, sendo iguais e diferentes, por que não podemos também combinar as políticas universalistas com as políticas diferencialistas? Diante do abismo em matéria de educação superior, entre brancos e negros, brancos e índios, e levando-se em conta outros indicadores socioeconômicos provenientes dos estudos estatísticos do IBGE e do IPEA, os demais índices do Desenvolvimento Humano provenientes dos estudos do PNUD, as políticas de ação afirmativa se impõem com urgência, sem que se abra mão das políticas macrossociais.
Não conheço nenhum defensor das cotas que se oponha à melhoria do ensino público. Pelo contrário, os que criticam as cotas e as políticas diferencialistas se opõem categoricamente a qualquer política de diferença por considerá-las a favor da racialização do Brasil. As leis para a regularização dos territórios e das terras das comunidades quilombolas, de acordo com o artigo 68 da Constituição, as leis 10639/03 e 11645/08 que tornam obrigatório o ensino da história da África, do negro no Brasil e dos povos indígenas; as políticas de saúde para doenças específicas da população negra como a anemia falciforme, etc., tudo isso é considerado como racialização do Brasil, e virou motivo de piada.
Convido o geógrafo Demétrio Magnoli a ler o que escrevi sobre o negro no Brasil antes de se lançar desesperadamente em críticas insensatas e graves acusações. Se porventura ele identificar algum traço de defesa do racismo científico em meus textos, se encontrar algum projeto ou plano de ação para suprimir os mestiços e racializar o Brasil, já que ele me acusa de ícone desse projeto, ele poderia me processar na justiça brasileira, em vez de inventar fábulas que não condizem com minha tradicionalmente pública e costumeira postura.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Desespero...




Por Juliano Gonçalves Pereira

Não suporto mais...
Ver meu corpo negro manchado de sangue pelas manchetes dos jornais e estatísticas nacionais.
Ver minha virgindade sendo jogada no lixo nas principais rodovias deste país.
Ver meus irmãos mendigando crack nos semáforos e serem maculados como vírus, câncer que precisam ser eliminados do organismo social.
Será que não importamos para esse país? Ou melhor, será que ainda continuamos não importando para essa terra como fizeram com nossos antepassados escravizados na África e trazidos para o Brasil? Às vezes tenho a impressão que pouco importamos a quem tem a obrigação de combater tamanhas atrocidades...
Não bastaram quase quatrocentos anos de escravidão, e um legado de sermos o mais perverso país das Américas a explorar a mão de obra negra escravizada...
Um tempo hostil, injusto, desumano, apregoado de formas perversas e insanas que feriram todos os princípios dos diretos humanos universais. Temos ainda que nos deparar em pleno Séc. XXI com ações letais que continuam a matar e escravizar esse povo negro que trouxe o progresso brasileiro nos braços, pagando muitas vezes com a vida o enriquecimento dos colonizadores.
Não suporto mais, chega!...
Chega de assassinatos, chega de bala perdida que tem preferência para o jovem negro da favela, chega de erros médicos que acomete em sua grande maioria o corpo escuro da mesa hospitalar, chega de ilegalidade, se o aborto perigoso mata preferencialmente a jovem negra que não possui recursos para fazê-lo de forma segura...
Chega!
Serão 33 mil adolescentes que perderemos até 2012 segundo a UNICEF/UERJ, se não intervirmos logo... Poderá ser meu vizinho, o teu filho, ou o garotinho que joga futebol na rua no final da tarde... Poderá ser teu filho mãe negra, meu afilhado, meu irmão... Poderá ser eu!
Não suporto mais tamanha dor, de ver meu povo mergulhado na pobreza e nos piores índices sociais, imersos em ideologias perversas, alienadoras e mentirosas...
É muita injustiça, muita falta de sensibilidade e vontade política...
Meu BRASIL acorda! Estamos sendo exterminados, existe uma máquina de matar que cerceia ainda hoje 121 anos após 13 de maio 1888 a liberdade do povo negro brasileiro.
Eu não suporto mais, tamanhas mentiras nos programas de TV, não suporto mais minha história ser maculada, bagunçada, inferiorizada, estuprada, vendida, subalternizada, nas novelas...
Meu povo me ajude que não suporto mais!
Meu desespero é latente, sufocante e me deixa impotente...
Não bastou sufocar-nos e explorar-nos como mercadorias durante o período escravocrata? Não bastou retirar de meus antepassados escravizados, o direito da liberdade, da constituição de família, de ter sua própria crença religiosa?
Deixaram-nos de fora de uma Constituição entendida como cidadã, que privilegia mulheres (legítimo), índios (legítimo), portadores de necessidades especiais (legítimo), pequenas empresas brasileiras (legítimo), crianças e adolescentes (legítimo), mas esqueceram de também fazer alusão ao povo que foi escravizado, que foi impedido de estudar, de ter saúde gratuita, assistência social, de ser remunerado pelo trabalho, esqueceram de mencionar quem mais precisa desta constituição, e ainda hoje nos impedem deste direto, nos interpelando de inserir-mos na Carta Magna brasileira pelo Estatuto de Igualdade Racial, com seu texto original que garante inclusão de fato do povo negro. Não bastou sujar nossa mente com teorias de auto-negação, com a privação da educação na primeira constituição brasileira, de atos perversos e impunes que distanciaram meu povo da cultura de acreditar no poder do conhecimento, que faz com que crianças e jovens, espalhados nas periferias do Brasil tenham como única referência o tráfico de drogas.
Não bastaram as mentiras sobre nossa capacidade intelectual, agora querem nos impedir de entrar na Universidade com igualdade de oportunidades, salvos, reconhecidos e assinados por Declarações Universais...
Oxalá, chega! Eu não suporto mais...
Entender um país de controvérsias, viver em um solo manchado com o sangue inocente negro, perceber um aparthait singelo, mesquinho que direciona as pessoas na sociedade pela geografia de seu corpo...
Não posso deixar essa terra para minhas filhas e filhos, não posso permitir que esse modelo de sociedade se postergue por mais tempo, é muita injustiça, muita exploração, muita desumanidade.
Meu coração aflito grita desesperado por socorro... Escute-me, ouça Brasil!!! Ouça este teu filho negro que só deseja um solo seguro e igualitário para teus semelhantes, que continuam sendo explorados e devastados pelo racismo, pelo machismo e por todas as mais perversas formas de discriminação...
Escute Brasil seu filho, antes que uma bala perdida atinja seu corpo negro, antes que o capitalismo o embranqueça, antes que a necessidade por comida e sobrevivência assalte e roube sua auto-estima e seus ideais. Escute! Antes que retirem sua aparência Afroafirmada para não mais ser mau tratado, discriminado, inferiorizado nas portas dos bancos...
Meu Brasil, escute teu filho que está desesperado por não saber mais como se comportar diante tantas injustiças, que chora durante a noite por um irmão que fatalmente mata e outro que fatalmente morre; Por uma irmã, muitas vezes ainda criança que entrega seu corpo por R$ 5,00 (cinco), R$ 3,00 (três) reais quando não são espancadas por estes monstros ladrões e exploradores dos direitos humanos, “violadores do significado de humano”...
Não agüento mais ver tudo isso! Gritar tantas barbáries, chorar desesperado em meu canto, e simplesmente ouvir que eu deva ter paciência. Não agüento mais sentir tudo isso! Por favor façam alguma coisa, pois estou morrendo...

Juliano Gonçalves Pereira é Negro, Educador Físico, Escritor, Compositor, Pesquisador, Conselheiro Municipal de Igualdade Racial, Membro do Centro Cultural Capoeirando, Membro da Rede Lai Lai Apejo - População Negra e Aids, Membro da Rede Nacional de Controle Social e Saúde da População Negra, Membro do Movimento Negro de Montes Claros/MG, Diretor da Comunidade Terapêutica para Dependentes Químicos Emanuel, Representante Coordenador pelo estado de Minas Gerais do Fórum Nacional de Juventude Negra.

Tomando Consciência...


Como queria que tod@s não negros tivessem essa consciência...

Certamente nosso país seria melhor, mais humano e igualitário.


por Reinaldo Bulgarelli

Ações afirmativas e cotas visam corrigir situações de desigualdade baseadas em discriminação a determinados segmentos. Elas imprimem uma velocidade maior do que a consciência do conjunto da sociedade consegue garantir na solução dos problemas. Fazem todo sentido diante das resistências imensas que compõem as barreiras para dificultar o caminho do grupo discriminado.
Cota para mim é o mesmo que assinar um decreto de que a consciência ética faliu diante dos passos lentos e da resistência imensa que os negros enfrentam. Por isso mesmo apoio ações afirmativas e cotas. Depois da falência, podemos reconstruir nossa civilidade juntos e não na apartação vigente. Neste momento, são trinta e um anos da minha história escutando que o problema é social e não racial, que tudo se resolve apenas com o enfrentamento da pobreza e da insustentável concentração de renda. Não acho justo pedir aos jovens negros que tenham paciência e aguardem do lado de fora enquanto nossa consciência se amplia para não mais precisarmos de cotas. Em 1978, quando me dei conta do que era ser branco neste país racista, meus amigos negros já escutavam essa história e não acho justo que outros jovens continuem sendo enganados por essa retórica que tudo promete e nada de concreto propõe.
Podemos até acelerar esse processo de ampliação da consciência quando há cotas corrigindo as desigualdades. A questão é que não pode haver um tempo imenso distanciando nosso discurso da prática. Se hoje nos damos conta do racismo que nos atrapalha a todos, hoje mesmo podemos fazer algo para melhorar a qualidade das relações raciais. Mas a retórica joga para o futuro a solução e eu já venho assistindo isso na década de 70, 80, 90 e nesta primeira década do século XXI. Isso para falar em primeira pessoa, sem querer evocar aqui todos aqueles que vieram antes de mim. Podemos continuar pedindo paciência aos negros? Acredito que está na hora de brancos terem paciência com as conquistas que o movimento anti-racista vem realizando no campo da educação e do mercado de trabalho, por exemplo.
Trabalho atualmente com o meio empresarial, que ampliou minha consciência e meu compromisso com o anti-racismo por várias razões. Uma delas foi perceber que cresce a consciência entre empresários e as altas lideranças empresariais de que o racismo é prejudicial às pessoas, aos negócios e à sociedade. Muitos já se deram conta de que o racismo restringe possibilidades na composição de equipes efetivamente preparadas e na construção de planos condizentes com a realidade do país. Com argumentos muito pragmáticos, há quem tenha se dado conta de que o mercado interno pode ser ampliado na mesma medida em que se combate o racismo nos processos de escolha do próprio quadro de funcionários.
Eu continuo achando que combater o racismo é a coisa certa a ser feita, mas estes argumentos práticos para o sucesso dos negócios apenas fortalece minha convicção de que é um erro para todos apostar na discriminação racial e mantê-la sem alterações significativas por séculos. Creio também que é preciso ser mais firme na reversão dos argumentos para gerar reflexões de tipo novo em quem está numa situação privilegiada e não se dá conta disso. O racismo é uma ideologia que aparentemente beneficia alguns em detrimento de outros, os escolhidos para ficar do lado de fora. Ele prejudica a todos e dar-se conta disso amplia a solidariedade entre todos no aprendizado necessário para uma vida sem a prática do racismo.
Paulo Borges, diretor do São Paulo Fashion Week, ficou em grande evidência diante das ações que visam ampliar o número de negros neste empreendimento da moda que, segundo ele mesmo diz, trata-se de um negócio, muito mais do que uma arte. Ele disse também que essa discussão sobre negros na Fashion Week é cafona. Tem toda razão. O racismo é cafona, para repetir esse termo que alguns gostam de utilizar para se referir à falta de bom gosto na maneira de ser. Não é chique ser racista. Coisa mais sem sentido, por isso mesmo, é dizer que no Brasil não há modelos negros preparados para as passarelas. O argumento racista sempre coloca a responsabilidade sobre os negros e usam essa história da falta de preparo. É ingenuidade, piloto automático ligado que reproduz o que ouviu falar na esquina ou má vontade mesmo para barrar as pessoas segundo seu pertencimento étnico-racial.
A cafonice chega ao ponto de atrasar o pagamento dos modelos negros ou de pagar bem menos do que pagam aos modelos brancos, além de dizer que o Termo de Ajustamento de Conduta, assinado com o Ministério Público, atrapalha a liberdade dos artistas. Arte ou negócios? É preciso entrar num acordo. E arte só com brancos é mais arte ou arte de melhor qualidade? Não deveria se envergonhar quem diz algo deste tipo?
Ao invés de causar vergonha aos que defendem a falta de diversidade nas passarelas, causa vergonha em alguns modelos negros. Fiquei especialmente entristecido com a fala de uma modelo negra que se colocou diante do seguinte dilema: agora não será mais possível saber se me convidaram porque sou bonita ou porque há cotas para negros nas passarelas. Posso ajudá-la dizendo que seria muito bom que modelos brancos também vivessem intensamente esse dilema: será que estamos aqui porque somos bonitos ou porque os organizadores disso tudo são racistas e só reconhecem beleza em quem é branco?
Vejo algumas mulheres com essa mesma questão em empresas que investem em ações afirmativas na carreira feminina: será que fui promovida porque sou competente ou apenas porque sou mulher? Segundo pesquisa do Instituto Ethos, quase 90% da alta liderança das 500 maiores empresas do Brasil é constituída de homens, sobretudo brancos. Mesmo assim, eu nunca vi nenhum grande líder revelar em alguma entrevista que está em crise porque não sabe se alcançou a alta liderança da organização porque é competente ou apenas porque é homem e branco.
Já não se sustenta mais o argumento de que não houve tempo de formar uma liderança feminina porque a entrada significativa da mulher no mercado de trabalho se deu nos anos 70. Quase quarenta anos não foi suficiente para que mulheres alcançassem postos de liderança? Há homens que começaram uma carreira e até já se aposentaram neste mesmo período. As empresas que não são cafonas investem em ações afirmativas para acelerar esse lento processo de conscientização e para enfrentar com inclusão efetiva as resistências impostas pelo machismo.
Mas, têm que conversar com as mulheres e explicitar sua visão para evitar boicotes por parte daquelas que podem salvar a empresa da cafonice do machismo. Elas explicitam a todos que a diversidade evita risco aos negócios, melhora a qualidade das decisões, oferece maiores possibilidades de sucesso ao se lidar com um país também diverso e, acima de tudo, é a coisa certa a ser feita. A diversidade na população economicamente ativa é constituída de homens e mulheres, assim como de brancos e negros, hetero e homossexuais, pessoas com e sem deficiência, pessoas mais jovens e com mais de quarenta anos, entre tantas outras características que podem se transformar em motivo para desigualdades persistentes, naturalizadas e firmemente defendidas com argumentos de que o problema é social.
Ações afirmativas e cotas são conquistas de gente que tem pressa e quer dialogar sobre soluções melhores do lado de dentro e não da janela das organizações. Essa imagem é muito nítida quando escuto que os que estão do lado de fora devem ter paciência porque as mudanças são mesmo lentas e dependem da elevação da consciência de todos. Não podemos conversar na sala da casa ao invés de gritarmos por paciência lá do último andar? Essa multidão, que artificialmente é colocada na base da pirâmide por complexos processos de discriminação negativa, tem que ficar do lado de fora, na chuva, enquanto a gente se entende? Não podemos enfrentar nossos dilemas juntos, olho no olho, no mesmo piso? Não podemos juntos ganhar consciência, nos educarmos, sensibilizarmos e melhorarmos nosso desempenho neste campo da valorização da diversidade? Será que solitariamente um grupo de iluminados vai dar conta dos desafios de nosso tempo? Valorizar a diversidade é preciso e é urgente!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Reflexão sobre a CRISE

Fiquemos atentos Juventude. A CRISE deseja beneficiar alguns poucos que não somos nós...


O Fim do Pensamento Único

Não há “uma única solução possível para sair da crise”. Há várias e estas, sem deixarem de ser econômicas, são sobretudo sociais e políticas. Contudo, o pluralismo, para ser eficaz, tem de ser equilibrado em sua publicidade.

Por Boaventura de Sousa Santos

No momento em que escrevo, os portugueses dispõem de duas visões muito diferentes sobre como sair da crise em que nos encontramos. De um lado, o “manifesto dos 28” e, do outro, o “manifesto dos 52”. Para o primeiro, a solução é o limite do endividamento, o que implica uma drástica redução do investimento público, fonte de muitos males, sendo os maiores o TGV, o novo aeroporto e as auto-estradas. Para o segundo, a prioridade é a promoção do emprego e a capacitação econômica, o que implica um forte investimento público (não necessariamente nos projetos referidos) pois só o Estado dispõe de instrumentos para desencadear medidas que minimizem os riscos sociais e políticos da crise e preparem o país para a pós-crise.As diferenças entre os dois documentos são, antes de tudo, “genealógicas”. O primeiro é subscrito por economistas, a grande maioria dos quais ocupou cargos políticos nos últimos quinze anos, e colaborou na promoção da ortodoxia neoliberal que nos conduziu à crise. O segundo é subscrito por economistas e cientistas sociais que, ao longo dos últimos quinze anos, tomaram posições públicas contra a política econômica dominante e advertiram contra os riscos que decorreriam dela. À partida há, pois, uma questão de credibilidade: como podem os primeiros estar tão seguros do seu saber técnico se as receitas que propõem, descontada a cosmética, são as mesmas que nos conduziram ao buraco em que nos encontramos e em cuja aplicação participaram com tanto desvelo político?Mas as diferenças entre os dois documentos são mais profundas que a descrição acima sugere. Separa-os concepções distintas da economia, da sociedade e da política. Para o manifesto dos 28, a ciência econômica não é uma ciência social; é um conjunto de teorias e técnicas neutras a que os cidadãos devem obediência. Pode impor-lhes sacrifícios dolorosos — perda de emprego ou da casa, queda abrupta na pobreza, trabalho sem direitos, insegurança quanto ao futuro das pensões construídas com o seu próprio dinheiro — desde que isso contribua para garantir o bom funcionamento da economia entendida como a expansão dos mercados e a lucratividade das empresas. O Estado deve limitar-se a garantir que assim aconteça, não transformando o bem-estar social em objectivo seu, pois mesmo que o quisesse falharia, dada a sua inerente ineficiência. Pelo contrário, para o manifesto dos 52, a economia está ao serviço dos cidadãos e não estes ao serviço dela. Os mercados devem ser regulados para que a criação de riqueza social se não transforme em motor de injustiça social. Enquanto o bilionário Américo Amorim não terá de cortar nas despesas do supermercado apesar de ter perdido montantes astronômicos da sua imensa riqueza, o mesmo não ocorrerá com o trabalhador a quem o desemprego privou de umas magras centenas de euros. Cabe ao Estado garantir a coesão social, acionando mecanismos de regulação e de investimento para que a competitividade econômica cresça com a proteção social. Para isso, o Estado tem de ser mais democrático e a justiça mais eficaz na luta contra a corrupção.É de saudar que haja opções e que os portugueses disponham de conhecimento para avaliar as consequências de cada uma delas. Em tempos eleitorais é importante que saibam que não há “uma única solução possível para sair da crise”. Há várias e estas, sem deixarem de ser econômicas, são sobretudo sociais e políticas. Contudo, o pluralismo, para ser eficaz, tem de ser equilibrado em sua publicidade. Anoto, sem surpresa, que apesar de vários jornais de referência terem dado voz equilibrada aos dois manifestos, o mesmo não sucedeu com o Público, cujo diretor nos brindou com um comentário ideológico e auto-desqualificante contra o manifesto dos 52. Este proselitismo conservador tem muitos antecedentes — quem não se lembra da grosseira apologia da invasão do Iraque e da demonização de todos os que se lhe opunham? — e talvez por isso este jornal tenha os dias contados enquanto jornal de referência.

Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

Carta da Juventude Negra na II CONAPIR

Brasília, 28 de junho de 2009.


II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial

O Fórum Nacional de Juventude Negra – FONAJUNE criado a partir do desdobramento do Encontro Nacional da Juventude Negra - ENJUNE ocorrido em Lauro de Freitas/BA em 2007, vem por meio desta carta, reconhecer a importância da II CONAPIR na construção e norteamento das políticas públicas, de ações afirmativas e reparações das populações historicamente excluídas em especial da População Negra Brasileira.
Sendo um dos principais objetivos do Fórum Nacional de Juventude negra o reconhecimento do relatório final do ENJUNE, um documento norteador das políticas públicas para a Juventude Negra , faz-se necessário que este seja, de fato, uma prioridade das bandeiras do movimento negro e da SEPPIR no palco da II CONAPIR.
Ressaltamos ainda a necessidade de construirmos uma ampla aliança entre os atores do movimento negro brasileiro, governo brasileiro, demais organizações não governamentais e povos historicamente excluídos
O FONAJUNE tem contribuído e contribuirá por um projeto de sociedade que preze pela diversidade como valor positivo, onde a democracia e o Estado de direito se fortaleçam pela inclusão de múltiplas experiências humanas. Em defesa da equidade racial consideramos de extrema importância a formação de todos os cidadãos e cidadãs convivendo com suas singularidades e estabelecendo lugares de protagonismo no cenário sóciopolítico e cultural.
Desta forma, ressaltamos o dever e o compromisso assumido pelo Estado em proporcionar subsídios à articulação dos movimentos negros organizados em especial de juventude negra, objetivando a transformação da realidade sócio-racial brasileira e demonstramos nossa reivindicação imediata por:
· Construção de um novo modelo de Políticas de Segurança, Justiça e Direitos Humanos que assegure a manutenção da vida, coíba o encarceramento desproporcional do povo negro e combata o Genocídio da Juventude Negra;
· Garantia e ampliação das políticas de Ações Afirmativas, com enfoque na demarcação dos territórios quilombolas, nas cotas raciais nas Universidades Públicas para formação intelectual da Juventude Negra Brasileira;
· Efetivação do Programa de Combate ao Racismo e Sexismo Institucional, sobretudo nas instituições penais, sócio-educativas, em especial as voltadas para as Mulheres Negras em privação de liberdade;
· Aprovação imediata do Estatuto da Igualdade Racial em sua versão original que garanta todas as reivindicações históricas da população negra brasileira.
Cientes de nossas responsabilidades como delegadas/os da II CONAPIR reiteramos nossa indignação em relação as ações deliberadas na I CONAPIR dentre outras o percentual geracional de 20% que não foram cumpridas.
Por fim, pontuamos a indispensável importância das organizações Nacionais do Movimento Negro na luta pela construção de um modelo de Estado que abarque os direitos da População Negra, e proporcione a reparação que o racismo provoca a sociedade Brasileira. Neste contexto nos colocamos como importantes agentes deste processo, tendo em vista que somos uma juventude que aglutina diversas formas de expressão e militância, a exemplo da Juventude Negra Comunitária, Feminista, LGBT, Quilombolas, Hip-Hop que se organizam de forma autônoma, supra-partidária e laica.

Manifesto II CONAPIR



Salve Irmãs e Irmãos sedentos por informações...
Abaixo na íntegra o manifesto do povo negro presente na II Conferência de Prooção da Igualdade Racial ocorrida entre os dias 25 a 28 de junho de 2009 em Brasília/DF. O Povo Negro unido, lutando por reparações.

MANIFESTO EM DEFESA DOS DIREITOS
E DA AUTONOMIA POLÍTICA DA POPULAÇÃO NEGRA

Nós, Organizações e Ativistas do Movimento Negro vimos nos manifestar publicamente em defesa de uma ação contundente do Estado brasileiro para garantir a efetivação dos direitos políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais da população negra.
Lutamos contra a escravidão e rompemos as correntes da opressão. Desmascaramos a farsa da democracia racial e inscrevemos na Constituição Federal o racismo como crime inafiançável e imprescritível. E mais, temos construído um amplo consenso na sociedade brasileira sobre a necessidade de uma ação coletiva para banir o racismo.
O Estatuto da Igualdade Racial se inscreve neste contexto como parte da nossa luta histórica. Após quase uma década de tramitação no Congresso Nacional, o documento tem sido alvo de ataques que o desfiguram completamente!
Neste início de século XXI, a articulação de diferentes setores racistas, partidos políticos e herdeiros dos antigos senhores de escravos derrotados em 1888, têm engendrado diferentes maneiras de se contrapor à vontade da sociedade brasileira de instaurar a equidade e a justiça racial entre nós.
Não satisfeitos de serem detentores da maior fatia da riqueza nacional, produzida em grande parte pela população negra, insistem em utilizar manobras para esvaziar o sentido original do Estatuto, inviabilizando a plena realização de nossas conquistas no combate ao racismo, em evidente desobediência aos preceitos constitucionais e aos tratados internacionais ratificados pelo Estado brasileiro.
Neste momento, interesses eleitorais estimulados pela proximidade de 2010, têm provocado articulações e composições espúrias que utilizam nossas conquistas como moeda de troca. Daí o esvaziamento dos conteúdos de justiça racial do Estatuto, o que impõe retrocessos, injustiças e a perpetuação de violações de direitos fundamentais da população negra.
Grileiros, gestores públicos, legisladores e empresários da comunicação, entre outros, se unem para produzir uma proposta clandestina do Estatuto, contrariando frontalmente os nossos interesses e as evidências de que o racismo é um fator estruturante das hierarquias na sociedade brasileira. São exemplos disto:
1. O caráter autorizativo e não determinativo desta proposta de Estatuto, que delega aos gestores a decisão de cumprir ou não o que está escrito;
2. A eliminação do instrumento das cotas e a restrição das políticas de ação afirmativa apenas à parcela da população negra brasileira abaixo da linha da pobreza;
3. O não reconhecimento dos territórios tradicionais quilombolas - terras ocupadas por remanescentes de quilombos, utilizadas para a garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural, bem como as áreas detentoras de recursos ambientais necessários para a subsistência das comunidades, para a preservação da sua cultura, englobando os espaços de moradia, espaços sagrados e sítios históricos;
4. A retirada da criação do fundo de recursos financeiros para implementação de políticas públicas para a população negra.
Sendo assim, em respeito à trajetória política de negras e negros brasileiros, nos manifestamos pela defesa intransigente de nossas conquistas históricas, repudiando o atual texto substitutivo do Estatuto da Igualdade Racial – Projeto de Lei 6264/2005.
Nesse mesmo sentido a II CONAPIR se pronunciou favorável à aprovação do Estatuto com alterações que assegurem as demandas históricas da população negra.
Repudiamos as negociatas que envolvem partidos de direita e de esquerda. Repudiamos os retrocessos.
Repudiamos qualquer tentativa de esvaziamento de nossa organização política.
Reafirmamos nossa luta por ações afirmativas nos diferentes setores da vida social e política do país.
Pelas cotas raciais nas universidades públicas.
Pelo direito aos territórios das comunidades quilombolas e tradicionais.

Nenhum direito a menos! REPARAÇÃO JÁ!
Brasília, 28 de Junho de 2009
II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial

Assinam,
AKANNI (INSTITUTO EM PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS, GÊNERO, RAÇA E ETNIA)
ANMNB (ARTICULAÇÃO NACIONAL DE MULHERES NEGRAS BRASILEIRAS)
ASFAP-BA (ASSOCIAÇÃO DE FAMILIARES E AMIGOS DE PRESAS E PRESOS DO E. DA BAHIA)
CANDACES (COLETIVO NACIONAL DE LÉSBICAS NEGRAS E FEMINISTAS AUTÔNOMAS)
CENTRO CULTURAL ORUNMILA (SP)
CENTRO DE REFERÊNCIA NEGRA LÉLIA GONZALES
CONAQ (COORDENAÇÃO NACIONAL DE ARTICULAÇÃO DAS COMUNIDADES NEGRAS RURAIS QUILOMBOLAS)
CRIOLA
FÓRUM NACIONAL DE JUVENTUDE NEGRA
GÈLEDÉS – INSTITUTO DA MULHER NEGRA
GT DE COMBATE AO RACISMO AMBIENTAL
MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO (MNU)
CENTRO CULTURA CAPOEIRANDO DE MONTES CLAROS/MG