sábado, 26 de junho de 2010

A ABPN e os Movimentos Sociais Negros



Por: Joselina da Silva - UFC


Joel Rufino dos Santos, num texto que já se tornou referencial para os estudos dos movimentos negros brasileiros, aponta uma diversidade de visões oriundas do próprio movimento no que refere à sua abrangência de atuação. (Santos, 1985). Um determinado grupo acredita que só as organizações surgidas após a Frente Negra estão aptas a serem classificadas como integrantes, desde que demonstrem-se vocacionadas para o combate ao racismo. Assim, as lutas ocorridas no período pré-Abolição, não seriam incluídas. Por outro lado, um grupo diverso definiria movimento negro como “todas as entidades de qualquer natureza, e todas as ações de qualquer tempo (aí compreendidas mesmo aquelas que visavam auto-defesa física e cultural dos negros)” (Santos, 1985: 287).



Desta forma, ainda à luz do autor, os ativistas dividiriam o movimento negro em abrangente e em um outro que seria o seu oposto. Lembremos, portanto que uma das principais características dos grupos do movimento social negro é a pluralidade, a diversidade de ações e as formas de desempenhá-las. Nesta direção, vale lembrar que os movimentos sociais - chamados novos - tem como uma de suas grandes “novidades” o caráter multifacetado, autônomo e diversificado (Mellucci, 1996). Assim, marcam sua constituição o fato de não serem uniformes e possuírem uma descentralidade nas lideranças e comandos (Santos (1999) quanto Mellucci (1996) dialogando com o estado e com a sociedade



Paralelamente, na literatura acadêmica sobre movimentos sociais urbanos é recorrente uma periodização que aborda os jornais negros, nos anos vinte e a Frente Negra, na década de trinta, sendo ambos em São Paulo Mais adiante, tratam do Teatro Experimental do Negro, no Rio de Janeiro em meados dos anos quarenta (Winnant, 1994 / Hanchard,1998 / Andrews, 1991). O momento seguinte, ainda de acordo com aquela literatura, só volta ser demarcado com o Movimento Negro Unificado (MNU), na década de setenta. Portanto, é premente a necessidade da realização de estudados mais acurados, uma vez que inúmeras outras iniciativas tiveram lugar antes, durante e entre estas datas tradicionalmente elencadas.



Marcadamente, lideranças afro-brasileiras vem demonstrando - em suas publicações independentes ou jornalísticas, em seus eventos, entrevistas e ações - a necessidade de se buscar formas diferenciadas de inserção em inúmeras áreas da sociedade nacional, sendo a academia uma delas. Como apontado no primeiro texto deste seminário virtual, há uma longa trajetória de intelectuais que nos servem como indicadores de uma caminho a ser trilhado e ao mesmo tempo nos dão o aval para criticamente indicar outros tantos. Importante, neste mister, é retornar à discussão sobre os pesquisadores independentes, já abordados aqui. Uma vez que também estes, em muitas ocasiões tem sido aqueles através do quais o movimento tem produzido seu pensar e suas críticas à sociedade na qual atuamos. É nesta ambiência, gestada há vários decênios que a ABPN se torna possível.



Outrossim, articular uma parceria ABPN e movimentos negros é pensar na gênese mesma da Associação. Das motivações do seu surgimento reside a insatisfação de um referente grupo de intelectuais que de há muito viam sua reiterada invisibilidade no interior do campo acadêmico como produtores de pensamento e conhecimento. Tal dicotomia ainda provoca, em conseqüência, um fecundo alijamento nos campos temáticos das linhas de pesquisas. Logo, a insurgência que caracteriza os movimentos negros e de mulheres negras é também parte integrante da ABPN que em última instância pode ser entendida como um de seus braços e sustentáculos.



Necessário se faz, portanto, construir outras metodologias e categorias analíticas para pensar os movimentos negros e de mulheres negras, tendo- os em parcerias no desenvolvimento de possibilidades de pesquisas, e não apenas como objetos das reflexões acadêmicas. Ao encetarmos este novo momento conseguiremos auferir novos e qualificados paradigmas obre estes importantes atores sociais, que hoje se configuram referentes protagonistas na sociedade brasileira. Constituir um cargo a ser desempenhado por uma liderança representante dos movimentos, junto à direção nacional, já seria um admirável passo inicial.



O diálogo com o movimento negro, deverá, portanto, ser de parceria., na qual haja troca de saberes (acadêmico e ativista). Neste sentido, atividades, no âmbito do ensino, da pesquisa e da extensão deverão ser performadas por todos (as) ligadas à ABPN e às Associações regionais de pesquisadores negros, no sentido de não perdermos de vista estes atores sociais que, em primeira instância são os grandes mentores de nossa existência enquanto associação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário